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sábado, 28 de dezembro de 2013


NATAL DE 2013

Há tantos anos ele nasceu e sempre é lembrado, quer pelos que o amam, quer por aqueles que o odeiam.  Tantos se aproveitam de seu nome, de sua imagem, daqueles que o amam, para tirar proveito insano e lucros desmedidos.  Tantos se imiscuem entre os que o amam e roubam, falseiam, ludibriam, até em seu nome.
Há, porém, uma maioria feliz que ama e é amada.
Que respeita e é respeitada.
Há as diferenças.
Há as semelhanças.
Sobretudo, há as crianças!
Ah ... as crianças, seres pequenos que entram nesta vida de ilusões, com esperanças, com credibilidade.
Seres que, se não crescessem, mudariam o mundo pela autenticidade de viver sem sofrer, de viver sem tristezas, de viver só por viver.
Ainda me lembro das tentativas que meus olhinhos de cinco ou seis anos de idade faziam por não fechar.
Queriam esperar, acordados, o Papai Noel.
Minha boa mãe, cordata com meus desejos, movia minha cama do quarto para a sala e a colocava ao lado do presépio, cuidadosamente armado, com limo tirado das terras úmidas que beiravam o córrego, o rego d’água.
- Que hora Papai Noel chega?
- Como ele entra na nossa casa?
- Como ele sabe o que quero?
- Ele leu a carta que mamãe escreveu para ele?
As histórias e estórias que minha mãe contava, paciente, intercalada de canções cantadas com carinho e emoção, embalava meu coração de criança e faziam crescer o peso das pálpebras pequenas e eu acaba por dormir.
Como sono de criança é bom...
Sem ouvir o barulho do bom tio que trazia, escondido sob a capa de boiadeiro, o presente que o Papai Noel, com tanto trabalho nesta época, lhe incumbia de trazer.
Ao acordar a surpresa, a alegria, o presente.
São quase 73 de anos de vida e, neste dia, custo a dormir, esperando que Papai Noel chegue e eu possa vê-lo.
Não consigo esperar.
Não tenho mais as canções da minha mãe, mas o sabor do bom vinho, da farta ceia.
Mas continuo esperando e, sempre, ao acordar, sempre me surpreendo com o presente.
Além daquele maior (que é a vida), tantos outros, tantas felicidades, tantas alegrias, tantas surpresas.
Meus olhos, de pálpebras cansadas, pesadas, deveriam fechar-se mais vezes, em mais noites de Natal, para que maiores e sempre melhores presentes viessem!
Paz, saúde, solidariedade, lealdade!
Feliz Natal, ho, ho, ho ...


                               Romeu Oliveira Gurgel, Copacabana,24.12.2013.

sábado, 30 de novembro de 2013

MEU PRIMEIRO CHOPE COM MEU NETO



Acho que o título está bom, mas melhor seria o melhor almoço de fim de ano com meus primogênitos (filho e neto, ambos príncipes) e a deliciosa companhia da princesa Ivana.
Muito a falar, muito a comemorar.
Reaprendi o ato de amar e de amar muito, através das grandes notícias, sempre com a verbosidade do Alexandre.
Não vou consegui esquecer, em mil anos que viva, destes momentos de carinho e alegria em que é sobrelevado o valor da família, através dos dons pessoais de cada membro e do respeito mútuo e eterno que tudo envolve.
Ainda rola em minha cabeça cansada as expressões de tranquilidade do momento, ambientado pelo cenário de “La Maison” e o requinte do cardápio eclético e democraticamente escolhido, onde Singapura se misturou com a Bahia, “shrimp” em bobó, a picanha e alho e óleo.
Ri, ri muito, da definição de político do meu maior e adorei, amei a idéia da publicação de uma coletânea de sucessos das minhas aventuras de advogado.
Entendo, agora, porque se diz que a vida se projeta e se perpetua.
Certa ocasião, quando passava por uma das mais tristes fases de minha vida, ouvi de um grande amigo, a frase “o que mais admiro em você é que nunca desiste” (verdade que respeito).
“Coletânea de pedidos formulados por um advogado tenaz, providos pelos magistrados” poderia ser o título. “Coletânea de pedidos bem sucedidos” ou, em duas palavras, “Sentenças irrecorríveis” ... (risos).
Não importa se o livro seja escrito ou não, as petições estão nos meus arquivos e a idéia do meu filho, enlevada pelo elogio de sua “Dona” aos meus escritos, pela grandeza de meu neto, foi demais para o meu ego.
Cheguei saltitante e meu “home office” mais parecia, para mim, uma cadeira perpétua na Academia Brasileira de Letras.
Ou, quem sabe, na recém criada Academia Brasileira de Direito Civil, onde tem assento o insigne Sílvio Capanema de Souza.
É tanta honra que o trio maior que compunha o significado do encontro de “Gurgéis” de fim de ano fez deste quarto componente, obscuro e ultrapassado, sentir-se rei, capo, pai, avô ou seja, sentir-se “o cara”.

Tomei meu primeiro chope com meu primeiro neto, filho de meu primeiro filho.
É o que conta!
Romeu Oliveira Gurgel

Copacabana, 29.11.2013.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

SORRISO



Sorrir é preciso.
Preciso, porém, não é o sorriso.
É largo, verdadeiro,
é lisongeiro.

Mas se não sorrio,
Fico, aqui, neste rio.
Triste ou altaneiro,
mas sempre de janeiro.

Em janeiro, nasci.
Fiquei velho, cresci.
Mas, sorrio, mentiroso.
E vivo, alegre, gostoso.

Amo, por que sorrio.
Sorrio, sempre sorrio.
Alma triste, existe,
mas sorrir consiste.

Escrever é conseqüência.
Calar é demência.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Posto Seis

A tarde nem era alegre.
A praia estava limpa.
O pombo, solitário.
Eu, solitário, nem era alegre.
A beleza de tudo em volta.
O idioma mal falado.
Os estrangeiros brancos,
de sol avermelhados.
Os celulares roubados.
Policiais desatentos,
sedentos.
A tarde nem era alegre.
A foto do pombo.
O pombo da foto.
O clique do celular.
O curtir dos amigos.
Eu, alegre, nem era solitário.
O pombo, solitário, voou.
Outros, muitos, no cenário.
Vou falar, logo, de vez.
Isto é o Posto Seis.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O autógrafo


Rio de Janeiro, 27 de abril de 2011.

 

Caríssimo Alyrio Cavallieri:

 

Quase dezenove horas, cansado de um dia extenuante de advogado, vivido do Fórum Regional da Barra para o da Comarca de Duque de Caxias, com passagem pelo Tribunal de Justiça, chego em casa.

 

O porteiro, com aquele sorriso de quem vai receber um agrado, me entrega um envelope pardo e, pela caligrafia do endereçamento que logo reconheci, não entendeu porque saí correndo para meus aposentos.

 

A dedicatória remeteu-me para o “Jovem de 88 anos” que já passa, graças a Deus, pelos noventa rumo ao próximo século.

 

Nada havia lido da Clara Arreguy, mas logo me identifiquei com seu estilo de escrever e deliciei-me com sua correta fala sobre o “meu tipo inesquecível”, amigo e exemplo divulgado para todas pessoas de bem com quem algum dia me relacionei.

 

Não parei naquela crônica e, não fosse o relógio do estômago despertar, ainda estaria lendo a deliciosa coletânea.

 

Antes, porém, não me contive em usar o melhor meio de comunicação jamais superado e escrever esta cartinha, embora esteja distante de você apenas alguns metros, facilmente alcançados com alguns passos ou uma pequena corrida de táxi, para registrar meu agradecimento pela remessa do livro e contar-lhe que você acabou de satisfazer um antigo desejo meu: ter um livro com seu autógrafo.

 

Claro que tenho seu livro Direito do Menor, edição de 1976 e muitas  vezes pensei em pedir-lhe a preciosa assinatura.

Estou, agora, realizado.

 

Atravessada a “Catraca inoperante”, vejo a mesma letra do século passado (fins dele, é claro, afinal eu e você somos jovens de 70 e 90 anos), agora para presentear-me com seu autógrafo aposto à dedicatória que esperei tanto tempo “Ao amigo dileto e conterrâneo, com um abraço.”

 

Obrigado, mesmo!

Um forte abraço,

 

 

 

 

P.S. – Ainda estou embalado pela emoção de ter participado de seu  aniversário, com direito a cantar o hino do “Glorioso” e constatar que o coro era bastante grande e animado.

Espero continuar recebendo as edições d’ “O Primo” e poder compartilhar, sempre, da admirável família Cavallieri.

Imagem de 2013, 72 anos


Itabirito, nesta semana santa

Venho de lá, onde passei em revista meu habitat até os vinte anos.
Vejo, em ampliação vinte por trinta, excelente fotografia colorida assinada pelo meu genro (o Cristiano da Túlia, data venia).
Vagueio pelo tempo, como a nuvem destacada do límpido azul celeste do meio-dia, naquelas montanhas.
Não me lembro de ter sido criança, embora me veja aos quatro, aos cinco, aos nove e outras mais recentes idades naquelas plagas, muito adoradas.
Tenho saudade de tudo e de todos.
Como o Ataúlfo cantou, era feliz e não sabia.
Os programas radiofônicos (O Luquinhas da Loja de Bicicletas dizia que não entendia como eu, tão pequeno, tinha uma voz de besouro na Rádio Cultura), as crônicas publicadas (a curiosidade de todos quanto a quem seria o autor, pseudônimo de Robert Ray, capaz de denunciar “meninas que fumavam”. Quanta inocência, o grave crime denunciado era da utilização de produtos de Souza Cruz pelas jovens. E agora?, o que fazem as minhas jovens conterrâneas?).
A missa das seis na Igreja de São Sebastião, o óleo por mim derrubado, na pressa de iniciar a irradiação da Santa Missa Dominical:
- Senhores ouvintes, boa noite, diretamente da Matriz de São Sebastião passamos a irradiar a santa missa que será oficiada pelo Reverendíssimo Padre Adelmo....
O óleo derramando sobre meu casado, tirado às pressas, sem sair do ar e o pároco: - Coitadinho do Romeu, está todo ensopado.
Passo pela casa da Dalva esposa do Mendanha e vejo que Itabirito é muito bonita, imutável nos meus pensamentos.
Lembro do Padre Antônio e do Padre Geraldo.
Lembro do Luiz, companheiro nos estudos de italiano, lá no Hospital São Vicente de Paulo.
E todas as mulheres que me fizeram romântico eterno, sobretudo aquelas que amei sem jamais conseguir me aproximar, nem mesmo tirar para dançar naqueles bailes domingueiros no União ou no Itabirense.
Lembro até de dona Maria Catuta, madrinha de minha mãe, tia do Telê Santana.
E Lucy, aquela menina que me ajudava a lavar o banco de madeira ao lado de minha casa, tão bonita, talvez meu primeiro amor.
Lembro da Fufu, da Maria Helena, da Dalva, da Vera...
Da Maisé que me ensinou um código (Zenit x Polar) pelo qual seu nome ficava Mitai.
É melhor parar de lembrar.
É Sábado Santo, naqueles tempos, Da Aleluia, com bailes e alegrias.
Romeu Oliveira Gurgel, Rio, Copacabana, 2.5.2003, ao ver a foto tirada em 19.04.2003.

sábado, 20 de julho de 2013

Vamos à lide

Rascunhando uma decisão de relator em processo regulatório, fui censurado por usar a palavra lide no seguinte texto:
“Insisto, pois, na ponderação de que ao julgar qualquer incidente como o que está em lide, é primordial verificar quem lhe deu causa e punir, através da autoridade competente, aqueles baderneiros, dilapidadores do patrimônio público, vândalos e, sobretudo, procurar a apuração dos reais motivos e intenções.”
A palavra foi substituída por pauta e a justificativa foi de que, in verbis,
 “lide é um termo técnico processual específico e cunhado por Liebman, significando uma demanda em que há partes contrapostas em pretensão e um juiz para solucioná-la – isto não acontece nunca na Agência.”
Sou vaidoso de meu estilo, mas humilde quando não sei e, como não dou a palavra final, lide virou pauta. E ponto.
Ponto final, para o voto.
Para mim, não.
Acho que tive meu direito de defesa cerceado e meu estilo redacional ofendido.
Explico:
Estou ciente de que cuido de um processo administrativo, mas lide não foi “cunhada” por Liebman, até porque, data venia, não é moeda.
Antes de que Liebman nascesse, já existia como substantivo feminino no antigo Lácio, com o significado de trabalho (lite).
Também significa contenda, combate, luta, ou questão judicial, litígio, pendência.
Existe até uma outra lide, com diferente etimologia, adaptação da palavra inglesa “lead” para a parte introdutória de matéria jornalista, uma espécie de resumo do que se vai contar (manchete).
O Código de Processo Civil de 1973, na exposição de motivos, estabelece uma identidade entre os conceitos de lide e de mérito:
“Lide é, consoante a lição de CARNELUTTI, o conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos litigantes e pela resistência de outro. O julgamento desse conflito de pretensões, mediante o qual o juiz, acolhendo ou rejeitando o pedido, dá razão a uma das partes e nega-a à outra, constitui uma sentença definitiva de mérito. A lide é, portanto, o objeto principal do processo e nela se exprimem as aspirações em conflito de ambos os litigantes.”
Já Dinamarco, refere que está convencido da inadequação da colocação da lide como pólo metodológico na teoria do processo, porquanto não está satisfatoriamente explicada a hipótese de revelia ou reconhecimento do pedido, quando não há contraposição de pedidos, ficando-se com a ideia de que o processo não teria objeto nesse caso. O mesmo problema ocorre no momento anterior à contestação, em que ainda não se tem contraposição de demandas.
Para Liebman, a definição de lide como sendo o mérito da causa poderia ser aceita se fizéssemos alguns reparos ao conceito de lide proposto por Carnelutti (que foi a posição adotada por nosso Código de Processo Civil, vale lembrar).  Diz Liebman:
“Lide é, portanto, o conflito efetivo ou virtual de pedidos contraditórios, sobre o qual o juiz é convidado a decidir. Assim, modificado o conceito de lide, torna-se perfeitamente aceitável na teoria do processo e exprime satisfatoriamente o que se costuma chamar de mérito da causa. Julgar a lide e julgar o mérito são expressões sinônimas que se referem à decisão do pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente e, por conseguinte, para conceder ou negar a providência requerida.”
Eduardo Ribeiro de Oliveira acompanha a ideia de Liebman de que o conceito de lide formulado por Carnelutti mereceria alguns reparos para que pudéssemos identificá-lo com o conceito de mérito:
Verifica-se, do exposto, que em duas classes de ações o conceito carneluttiano de lide não tem aplicação em sua inteireza. Relativamente a uma delas, ele próprio o admite, quando sustenta a existência de processo sem lide que corresponde à hipótese examinada por Calamandrei sob o nome de processo inquisitório. Outros casos, o de certos pedidos declaratórios, em que o comportamento do réu também não será apto para fazer desaparecer o interesse do autor. Não se poderia, pois, afirmar que houvesse pretensão resistida, necessária na doutrina de Carnelutti para existir lide.
Há que se aceitar, em decorrência de todo o exposto, que a adoção pura e simples do conceito de lide formulado por Carnelutti e sua aceitação como apto a definir o mérito levaria a que em alguns processos não seria possível demarcar-lhe os contornos. Sendo esta conclusão inaceitável, formulação mais abrangente haverá de ser buscada em que não se empreste maior relevo à conduta do réu, posto que nem sempre decisiva. Parece que, para isso, haverá que se afastar a menção à resistência, circunstância de que por vezes se prescinde. Lícito falar-se em conflito de interesses qualificado por pretensão insatisfeita.

Ovídio Baptista, contudo, discorda desse posicionamento de que mérito equivaleria à lide. Para os defensores desta teoria, o conceito de mérito está intimamente ligado a duas premissas essenciais: (a) a decisão de mérito cinge-se ao ato de julgar, razão pela qual diz-se que julgar a lide é o mesmo que julgar o mérito; (b) somente haverá verdadeiro julgamento (leia-se decisão de mérito) quando o magistrado manifestar-se sobre o pedido do autor para julgá-lo procedente ou improcedente. Isso faz concluir que qualquer provimento do juiz que não seja um julgamento definitivo, não seria de mérito. Se entendermos que o conceito de mérito corresponde ao julgamento da lide, parece correto que a concessão de uma medida liminar não será decisão de mérito. Para conceder ou negar uma liminar, o juiz baseia-se num juízo de probabilidade, sem pronunciar-se definitivamente pela procedência ou improcedência da pretensão posta em causa pelo requerente.
E conclui a crítica à ideia de Liebman:
Em última análise, e para simplificar as coisas, o provimento de mérito com que o juiz, para empregarmos as palavras de Liebman, ‘define a lide’, será necessariamente um juízo declaratório e, como tal, definitivo e irrevogável. Se o juiz disser, como deverá dizê-lo ao conceder a medida liminar, que o direito do autor é provável; que, do exame por ele feito do material probatório então disponível, pareceu-lhe verossímil o direito do autor, tais declarações sobre o merecimento (sobre o mérito) do pedido são inteiramente irrelevantes, como ‘definição da lide’. Mesmo que o julgador, expressando-se de modo incorreto, dissesse, naquele momento processual, estar comprovado o direito do autor e ele plenamente convencido da procedência da ação, ainda assim tal declaração ou seria inútil, por ser reversível (revogável) na sentença final; ou acabaria valendo como declaração definitiva.
Isto permite-nos uma conclusão interessante. Nem a assertiva de Buzaid identificando o ‘objeto do processo’ com o mérito da causa é correta, pois haveria tratamento da lide que não se identificaria com o julgamento de mérito; e nem o entendimento de Theodoro Jr., ao afirmar que ‘lide e mérito são sinônimos’ é verdadeiro. A lide pode ser tratada através de uma medida liminar, sem que o mérito seja sequer tocado; assim, como poderá sê-lo, por exemplo, nas ações de despejo e de esbulho possessório, objeto de provimento executório decorrentes do julgamento de mérito, ou julgamento da lide, conceitos estes, sim, como disse Liebman, sinônimos perfeitos. Mesmo não sendo, o provimento executório, um julgamento de mérito, ninguém lhe negaria a condição de ‘objeto do processo’.
Galeno Lacerda, assim como Ovídio Baptista, não comunga do entendimento de que lide e mérito seriam conceitos equivalentes.  Para o autor, mérito é um conceito que implica juízo de valor aplicado à conduta humana. Filosoficamente, é a propriedade do ato, em virtude do qual o sujeito ativo receberá uma recompensa ou sofrerá uma pena. Em síntese, diz Galeno, pode-se definir mérito como sendo a propriedade do pedido do demandante da ação processual conformar-se ou não com o direito e, via de consequência, ser acolhido ou rejeitado. Para ele, todo juízo de valor consistirá numa sentença de mérito.

Isto posto, quando usei a palavra lide, num processo administrativo, fi-lo sem querer maiores digressões, simplesmente como se estivesse usando a expressão “trabalho” “luta” “assunto” e nem estava pensando em contraditório.
Usei “lide” da mesma forma que a foi usado “cunhada” pelo ilustre revisor na sua crítica, a quem rendo homenagem pelo alto saber jurídico.
Mera questão de estilo.
Romeu Oliveira Gurgel

sexta-feira, 15 de março de 2013



QUEM NÃO DEVE, NÃO TEME, NEM TREME, ASSOPRA...


Perto de duas horas após meia noite, nesta bonita, bonita não, linda cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, dirijo meu carro asiático pela praia, destino ao meu apê no Posto 6, quando um enorme balão branco me mostra que estou numa verificação rotineira da Lei Seca.
Como já enfrentei outros engarrafamentos de trânsito iguais, sem ser sequer notado, continuei meu caminho, mas uma luzinha vermelha na mão do policial me indica que “pare” e estacione.
- Sou o policial Nogueira, por favor ligue o alerta do seu carro. Documento do veículo e habilitação.
Com os documentos em seu poder, o servidor público me perguntou se havia bebido e se eu aceitaria fazer o teste.
Sorrindo, respondi-lhe que não bebi e que faria o teste e afirmei “Lei Seca, esta eu apoio” e lá fui eu.
Nunca havia sido abordado antes.  Como a primeira vez você nunca esquece, resolvi curtir os detalhes.
Um outro policial verificou meus documentos e os reteve, enquanto o Nogueira me mostrava um “bico” do etilômetro lacrado em plástico, ajeitava a maquininha e me pediu que soprasse forte, por três ou quatro segundos.
Resultado: sem álcool ...
Devolvido os documentos, elogiei o jovem policial pela sua educação e firmeza.
No papo, perguntei se conhecia meu sobrinho e ele, demonstrando felicidade, falou-me do Tenente Laidens (orgulho da mamãe Vera Laidens e desse titio Gurgel que, embora entenda, não consegue aceitar que não seja Tenente Gurgel, da mesma forma que o filho Cláudio é Castanhola em vez de Gurgel (os risos aqui são permitidos, mas, como decano dessa família e estudioso de sua origem, amo nosso nome e dele me orgulho).
Ligado o carro, subi a avenida em poucas quadras e já estava na minha garagem, lembrando da minha mãe que, ao me ameaçar com o chinelo ou com a vara de marmelo, após alguma traquinagem que eu teria feito, dizia, mudando o ditado popular:
- Fale a verdade, quem não deve, não “treme”, menino ...

Romeu O. Gurgel,
Copacabana, 15 de março de 2013.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Meia dúzia de dúzias


Há três anos, neste dia dezessete de janeiro, realizou-se a comemoração do aniversário de meu nascimento, num churrasco com direito a bolo e velinhas, uísque, cerveja e vinho, ocasião em que distribuí para meus amigos uma gravação de imagem e som que intitulei “Romeu Oliveira Gurgel fazendo 69” filmada e editada pela minha querida Chellimi Cage, com textos meus, quase todos improvisados e sob minha direção.

Era grande minha expectativa pela festa, como sempre, o dia em que me sentia mais feliz em todo o ano, pois não tenho dúvidas de afirmar que adoro ficar mais velho, receber abraços e beijos e ter gente ao meu lado.

Já até pensava na próxima festa.

Entretanto, no Natal do ano anterior, poucos dias antes da minha festa, um triste fato envolveu um de meus filhos e o ambiente da festa foi tenso e não contou com a presença de todos, com justificativas por mim aceitas, sem grande credulidade.

Temia-se que ocorresse uma vingança contra meu caçula, injustamente acusado por conhecido estelionatário de tê-lo tentado assassinar.

A festa correu normal e feliz.

Dias depois, verdadeira catástrofe abalou nossa família, com a decretação e efetivação de sua prisão injusta.

Minha vida se transformou no maior martírio que jamais imaginara pudesse passar e, durante dois anos, dois meses e dois dias peregrinei por juízos e tribunais, de todas as instâncias. Visitei presídios, os mais variados, eis que o chamado sistema prisional de nosso país e estado é um complexo de incoerências e tristezas, sofrimentos e privilégios, coisas que nem parecem ser verdadeiras. Recorri a tantas pessoas quantas pude, sem sucesso.

Contei com amigos. Alguns me suportaram. Alguns me confortaram. Alguns me evitaram. Alguns me esqueceram, como se tivesse para eles morrido. Somei aqueles que entenderam meu sofrimento e os enalteço, sempre, quer pela dignidade, quer pela compreensão e solidariedade.

Não comemorei 70 anos. Não comemorei 71 anos. Recebi os muitos abraços, mas chorava por dentro, lembrando a visita que fazia pela manhã ao meu “menino” tão frágil e tão incapaz como quanto lhe trocava as fraldas. Sua ansiedade e sua esperança estavam sempre nos seus olhos que eu evitava mirar, com medo de chorar, pois sua confiança em mim e minha pequenez diante do “sistema” eram o abismo que não me deixava dormir e quando conseguia, os reduzidos minutos se constituíam de terríveis pesadelos.

Ano passado, em abril, acabou a terrível falsa e chegou a liberdade esperada.

Tudo que queria para este ano, quando seis vezes doze, meia dúzia de doze ou meia dúzia de dúzias de anos atinjo, era estar ao lado dos meus três filhos homem, num almoço dos quatro Gurgel e, à noite, reunir as duas filhas e toda a família, com as mulheres de meus filhos que não são noras, mas filhas também, e os maridos de minhas filhas, que não são genros, mas filhos também e meus maravilhosos netos.

Pensei em dividir a minha vida, até então, em seis dúzias, meia dúzia de dúzias ou de doze anos, das quais as duas primeiras seriam minha infância e juventude, em Itabirito, os demais anos aqui no Rio. A terceira engloba o período de meu primeiro casamento. A quarta da segunda união. A quinta do último casamento e a sexta o período atual.

Claro que a divisão não é exata e nem mesmo pode ser tão bem definida, mas serve como um comparativo, uma estratificação meramente simbólica.

Foi, então que, na semana passada recebi uma ligação do mais velho, dizendo-se o primeiro da lista do almoço e definindo a data como prioridade, escolhesse eu o local. Cheio de alegria, usei dos frios meios modernos para convidar o segundo, que disse que iria tentar remanejar alguns compromissos e falei com o mais novo, com seu de acordo.

Ansiei até ontem, imaginei quem mais gostaria de estar comigo nesse dia e hora e me senti feliz de poder estar com meus pequenos grandes “Gurgel” até que outro telefonema tudo cancelou, pelo perdimento da prioridade em razão do ofício e de viagem de trabalho.

Há mais de cinco anos que não consigo reunir meus filhos e, sabe Deus, talvez jamais o faça.

Castigo, com certeza, por atos que talvez tenha praticado no passado e que o Senhor da Justiça me faz pagar.

Esta página, entretanto, não é de tristeza, nem de inconformismo. Esta página é meu pedido de perdão a Deus e aos meus filhos por não ter sido melhor, nem mais presente, nem mais próximo e para dizer-lhes que não há dádiva maior para mim do que saber que estão livres e a viver suas próprias vidas.

Feliz meia dúzia de dúzias para mim, graças a Deus!

Copacabana, 17 de janeiro de 2013.
Romeu Oliveira Gurgel