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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pequena e altiva, com toda pujança, está Itabirito...

Procure-me mesmo que não precise de mim

Há alguns anos passados, assisti a uma conferência no complexo penitenciária da rua Frei Caneca, deliciando-me com a sabedoria bem transmitida com didática esmerada e de bom humor pelo ilustre conterrâneo Alyrio Cavalieri.
Ao final, o conferencista, então Juiz de Direito de uma das Varas Criminais da Capital, agradeceu a presença de todos e pediu, com aquela dicção extraordinária, de clareza sonora esfuziante, uma carona, assim, mais ou menos:
- Como é hora de trabalho no fórum e para lá devo me dirigir, gostaria que se, entre os senhores houver alguém que seja mineiro de Itabirito e esteja de carro, me concedesse o privilégio de uma carona...
É óbvio que eu era o único mineiro de Itabirito presente e o privilégio do convite me deixou tão contente que, no afã de cumprir melhor meu dever de motorista convocado, acabei por pegar o túnel Santa Bárbara e forçar o neo juiz a uma pequena tournée por Laranjeiras, Botafogo, Flamengo e Glória, antes de chegar ao Castelo e deixá-lo no Palácio da Justiça.
Conversamos um pouco e matamos a saudade, ocasião em que ele me confessou que, embora passando todos os dias pela porta do edifício onde morava seu irmão, às vezes ficava meses sem vê-lo.
Ensinou-me uma grande lição:
- Romeu, procure as pessoas sempre que precisar delas, pois, na cidade grande, é o jeito para nos vermos.
Constatei esta verdade, hoje, com a ligação de meu filho Cláudio, de quem, confesso, estou morrendo de saudades e já não o vejo há um bom tempo.
Ele me fez uma pergunta técnica jurídica que tive o prazer de responder, mas me deu uma vontade grande de dizer-lhe, “Olha, Filhão, só lhe respondo pessoalmente.”
Por que corremos tanto?  Eu mesmo, quase todos os sábados passo próximo da casa deste meu filho cerca de duzentos metros e nunca paro para um abraço.
Viajei no tempo e no espaço.
Cheguei à minha adolescência e me vi na Barbearia do “Seu” Vicente Gurgel a observar o comportamento das pessoas daquela querida cidade natal.
O cidadão chegava, cumprimentava, era convidado a assentar-se e aceitava o convite.  Iniciava, assim, uma prosa que demorava bastante tempo, às vezes uma hora. O “Seu” Vicente oferecia café, falava das novidades, do circo, da política e o conviva discutia, com fala mansa e sem pressa.
Lá pelas tantas, o “Seu” Vicente perguntava: - E, então, “Seu” Zeca, vai fazer a barba?
A resposta é que me surpreendia:
- Não, “Seu” Vicente, hoje não, porque ‘tou com um pouco de pressa... amanhã eu “vorto” com mais “carma”...

A procuração

Merece outra crônica, mas a história é tão parecida que sigo, proseando, com saudade de Itabirito, hoje não tão calma, assim.
Há alguns atrás, fui exercer minha profissão no fórum de lá, em assunto de interesse da minha família.
O Tabelião de minha infância, o Tupy Costa Coelho, já era falecido, mas sucedia-o um filho seu, meu colega.
Fui vê-lo.
No cartório, sentado, olhos baixos no livro de escrituras, nem notou minha presença.
Chegou um cidadão, fazendeiro humilde.
- ´tarde, “seu” moço...
- ´tarde, que qui manda, sô?
- vim aqui pru modi o sinhô fazê uma procuração pro INPS
- é p’ra recebê a pensão di sua mãe?
- é, sim sinhô, pois ela ta velhinha e num pode vim ao Banco.
- Olha, essa semana, tou muito ocupado com uma escritura, mas o sinhô vem aqui na terça da semana que vem que a gente combina pra fazê na outra, ta bem?

(Em frente ao meu escritório, aqui no Rio, um cartório faz, em média, uma procuração para cada quinze minutos do expediente.)

Romeu Oliveira Gurgel,
Copacabana, 28 de julho de 2011.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O ÓBVIO, ORA O ÓBVIO!

O óbvio, ora o óbvio!
 Para se viver, sem sofrer, às vezes temos que desconhecer o óbvio ou fingir que não existe.
A hilária figura do “Seu” Saraiva vivida por Francisco Milani na televisão é a mais expressiva crítica às perguntas imbecis de tantos que não pensam antes de falar.
Outro dia, fui ao Shopping Rio Sul para comprar um presente de aniversário para minha netinha e fui encontrar uma loja de brinquedos ao lado da Livraria Saraiva.
Perguntei ao atendente se tinha o “namorado da Barbie que fala”.
- O Ken Carson???
Tive vontade de responder que o namorado da Barbie era a Mulher Maravilha, mas me contive e respondi afirmativamente.
Ao ver o boneco,  pedi para testar e ele me perguntou:
- Será que ele fala?
Mais uma vez tive que me contar, pois se o brinquedo era “o namorado da Barbie que fala” não podia ser mudo.
Testei o brinquedo e disse que iria levá-lo para minha neta.
O que pensam que perguntou?
– O senhor vai comprar?
Sem preconceitos, nem homofobia, nada contra as loiras, fiz uma força enorme para não dizer ao rapaz que não iria comprar, mas que iria roubar o brinquedo. Contive-me e respondi que sim.
No caixa, enfim, uma pergunta razoável me surgiu, se eu ia pagar em dinheiro ou cartão. Respondi que em dinheiro, paguei e fui para o setor de empacotamento.
A jovem, linda e simpática, verificou a nota fiscal e, com um sorriso encantador, perguntou:
- É para presente?
Desculpem, amigos, mas não consegui agüentar mais e, como não podia dar um ataque cômico como o do Saraiva, respondi com um largo sorriso, tentando imitá-la:
- Não. Pode tirar da caixa, vou sentar-me aqui no chão e brincar... tem algum outro velho de setenta anos por aí que também goste de brincar com boneco?

(‘Tá calminho, agora? Agora ‘tou...)
Romeu Oliveira Gurgel,
Copacabana, 19 de julho de 2011.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Envelhecido por 152 anos

Aprecio um bom uísque, não importa se escrito whisky ou whiskey, mas dou preferência aos "highlanders" de doze ou mais anos.
Colecionador, sei da história (ou estória, não sei) do velho conhecido como Parr que teria vivido 152 anos, a quem se atribui o sabor do "Old Parr".
Numa roda de amigos, presente um jovem que queria demonstrar seus conhecimentos, ouvia sobre a cor dos rótulos, identificadores da idade, como no caso da marca jovem (cerca de 100 anos) John Walker, cujas cores red, black, green, gold e blue identificam o envelhecimento por 8 anos (vermelho), 12 (preto), 15 (verde), 18 (dourado) e 25 (azul), respectivamente.
Fumando desajeitadamente o charuto que empunhava, entrou na conversa, querendo abafar:
- Ja bebi Ballantine's de 30 e Royal Salute de 21, mas o mais velho que tomei foi um Old Parr de 152 anos.
Silêncio total na sala.
Apreciadores de uísque, às vezes, relevam ...
Mas o velho Parr deve ter remexido seus centenários ossos no caixão.

DESABAFO...

Ouvi no décimo andar do Tribunal de Justiça, de um advogado jovem, frase que me estarreceu:
- "Não quero a justiça dos Desembargadores, quero que eles apenas cumpram a lei."
Se tivesse ouvido isso num  botequim, ou numa roda de esquina, talvez não me importasse.
Ocorre que estávamos, o advogado jovem, eu e muitos outros, aguardando o início de uma sessão de julgamento do Colendo Conselho de Magistratura.
Não dei continuidade à conversa, mas fiquei perplexo.
Então a Justiça dos mais altos julgadores do nosso Tribunal Estadual não é o cumprimento da lei?
Fiquei a meditar.
Então é este o entendimento de um jovem advogado?  
Claro que o que se pede é o cumprimento da lei que deveria estar de mãos dadas com a justiça, confundindo-se uma com a outra.
No parecer expresso, entretando, ficou claramente demonstrado que a justiça a que se referia deveria ser escrita entre aspas, pois se afasta da lei.
Os interlocutores continuaram contando casos e casos, até que soou a campainha e a sessão teve início.
Que se cumpra a lei, pensei, mas que se faça justiça.
Estarei eu, velho demais?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

CONCEÇÃO DE IBITIPOCA, onde fica?


IBITIPOCA

Pela primeira vez, vi o nome
Conceição de Ibitipoca.
Embora, entre mineiros some,
onde fica isso, pipoca?

Vi todas as fotos, menina.
Prestei muita atenção.
Só descobri ser de Minas,
ao ler a palavra "pião"... rsrsrs

Se alguém achava estranho,
de Itabirito eu ser e nascer,
com certeza, vai adorar, um banho
em Ibitipoca rever.


Bjs. (observe que nenhum cartaz tem o MG de que os mineiros gostam de colocar nas placas, mas peão é peão em qualquer lugar, menos em Minas, onde é "pião" sô... e dus bão....)

(Escrevi hoje este “scrap” para minha querida amiga Adriana Louro)


terça-feira, 5 de julho de 2011

Adianta chegar cedo?

Corri para o trabalho,
enfrentei trânsito e frio.
Cheguei cedo, na mesa,
processos, embaralho.

Ligo o computador.
Não liga, que galho.
Chamo o consertador,
não chegou no trabalho.

Rascunho a mão,
com carinho e
chamo, mancinho,
o boy, ou sacristão.

Não chegou, também no labor,
nem a secretária chegou,
nem o homem do computador,
ninguém, ninguém chegou.

Ah, o computador ligou,
enfim, posso trabalhar,
começo a digitar e
puff ... saiu do ar.

Muito frio, no Rio.
No rio, também é frio.
Menos, obvio, no estio.
Por ora, faz frio no Rio.

Não adianta cedo chegar,
pois se quiser trabalhar,
pessoas vão atrapalhar.
Melhor em casa ficar...

domingo, 3 de julho de 2011

SUSTENTAR UM RECURSO NO TRIBUNAL

Sobre este assunto, há muito que falar, muito para contar.
Semana passada, perante o Conselho de Magistratura, sustentei uma apelação contra sentença monocrática do Juízo da Vara de Registros Públicos.
Após minha fala, um ilustre Desembargador pediu vista do processo.

Assim, não se trata de comentar o resultado, mas de remontar épocas distantes, quando iniciava no exercício da advocacia.

Fui sustentar um habeas corpus para trancar uma ação penal, no Tribunal da Praça João Mendes, em São Paulo.
Era a primeira vez.
Quando acessei o prédio histórico, já estava suficientemente nervoso, pois sabia que se não fosse feliz, praticamnte já estaria meu cliente condenado.
Ao ver o luxo e a beleza da construção, dos móveis, estava bastante estarrecido, quase que abobalhado.
Pisei um enorme e fofo tapete vermelho para chegar ao local.
Sentei-me, próximo da primeira fila, para facilitar meu acesso.
Quando foi anunciada minha fala, levantei-me e, confesso, quase me sentei de novo, tão grande era o tremor de minhas pernas.
Consegui falar, não sei como e, não sei como, a ordem foi deferida por unanimidade.
Graças a Deus!

Outra feita, fiz minha primeira sustentação oral no S.T.J. e comecei assim: Senhores Ministros, venho a Brasília pela primeira vez e, ao ver a magnitude desta Casa, sinto-me como meu ilustre conterrâneo que tudo aqui começou, o querido Presidente Juscelino Kubtscheck de Oliveira, quando vislumbrou todo este planato.
Era época do Governo Militar e J.K. estava no exílio.
Consegui meu intento, quanto ao processo, e, após o expediente, um abraço comovido de um ministro mineiro que me disse ansiar pelo retorno do direito e da liberdade.

Mas há também aquela história que se passou num desses nossos tribunais e que me reservo não dizer qual.
Aberta a sessão, apregoado o primeiro processo, dois desembargadores, rostos avermelhados pelo vinho que havia saboreado no almoço, iniciaram uma discussão acadêmica acalorada sobre determinado artigo do código processual.
- Você Excelência sabe ler? Não? Pois leio eu...o artigo é claro e é assim...
O Presidente, visivelmente irritado, suspendeu o julgamento, pediu a evacuação da sala, para um recesso de cinco minutos.

Não sei o que se seguiu no Tribunal, mas no retorno dos trabalhos, os desembargadores que discutiam não se encontravam presentes. 
Devem ter ido curtir a ressaca em tribunal mais apropriado, como o botequim da esquina...