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sábado, 31 de dezembro de 2011

Duas horas para trocar uma lâmpada





Nunca fugi de um desafio, por maior que fosse, muito menos dos pequenos do dia-a-dia.

Ainda criança, sempre me interessei pela iluminação elétrica, já que conheci (e até muito bem) o lampião de querozene, cuja fuligem escura tingia minhas narinas infantis.

A casa em que fui criado foi, antes de ser a morada de meus pais, um celeiro de milho da fazenda de meus avós, hoje não mais existentes, pois devidamente integrada a sua terra na área urbana.

Ao se casar a minha mãe, presenteou-a a minha avó, com a divisão daquele celeiro em quatro partes, abrindo-se-lhe janelas e portas, transformando-o numa casa de dois quartos, sala e cozinha.

Esses cômodos tinham pendentes de lâmpadas, pois o pé direito era bem alto e a instalação, daqueles tempos, partia de uma peça de encaixe de cerâmica, onde os fusíveis eram pedaços de fios, habilmente colocados e que se queimavam em casos de curtos-circuitos ou alteração das tensões.

Minha mãe não tinha habilidade para trocá-los, ao passo que minha curiosidade me transformou num expert. Não me lembro de quantas vezes levei choques elétricos leves nas minhas incursões pela eletricidade. A verdade é que nem mesmo sabia a diferença entre fuzil e fusível e já era eu quem trocava os fusíveis lá de casa.

Mas isso foi há muitos anos, mais de sessenta.

Ontem, porém, notei que uma das lâmpadas daqui de meu apartamento, estava queimada e dispus-me a trocá-la, o que me parecia uma simples ação de desatarraxar e atarraxar uma moderna lâmpada fria, de formado espiral, luz branca, no interior de um lustre de um ventilador de teto.

Fui ao mercado e comprei a lâmpada. Por volta de onze horas.

Copacabana, sempre linda, pululava de gente de todos os cantos do planeta.  Acho que até alguns E.T.’s vieram ver a queima de fogos do réveillon de 2012.

Ao subir na escada, constatei que havia uma diferença entre a lâmpada comprada e a que deveria ser substituída, o que não me pareceu um grande problema, pois colocaria nova na área de serviço e a que lá estava, igual à antiga, seria acoplada no local da queimada.

Feito isso, tudo bem, o ventilador girou, o lustre acendeu com suas lâmpadas e eu já considerava a tarefa cumprida quando verifiquei não não colocara a lâmpada nova na área.

Lá fui eu e, com o que eu pensava ser maestria, coloquei a lâmpada no lugar e “plic-plic” não acendeu.

Subi de novo a escada, atarraxei um pouco mais e, nada.

Tirei a lâmpada, coloquei de novo, desci a escava e, nada.

Na terceira tentativa, o bocal interno, aquela pecinha de latão ou cobre, veio junto com a lâmpada.

Fui à loja, comprei uma peça inteira nova e, após desligar a corrente elétrica no disjuntor de entrada (lembrando-me dos choques tomados na infância), cuidei de substituir o plafonier.

Tudo pronto, coloquei a lâmpada e, mais uma vez, não acendeu.

Tentei e, ao forçar um pouco mais, quebrei o bocal novo.

Sem desespero, desci da escada e fui, de novo, à loja de material elétrico, comprar outra peça.

Respirei fundo e fiz tudo de novo.

Cuidei dos mínimos detalhes, utilizando um ferramental certo, chaves corretas, alicates perfeitos e já estava me considerando um verdadeiro eletricista quando caiu de minha mão o pequeno parafuso que sustentava o bocal.

Desci e subi a escada, pela enésima vez, notei que minha camisa estava molhada de suor, meu pescoço doía de tanto olhar para cima, peguei o parafuso, coloquei-o, coloquei a lâmpada e, após ligar o disjuntor na caixa de entrada, a luz se fez, enfim.

Olhei para o sol de Copacabana, olhei para o relógio.

Passava das treze horas.

Demorei duas horas para trocar uma lâmpada, pô!



Romeu Oliveira Gurgel,

Copacabana, 31 de janeiro de 2011)