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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

SORRISO



Sorrir é preciso.
Preciso, porém, não é o sorriso.
É largo, verdadeiro,
é lisongeiro.

Mas se não sorrio,
Fico, aqui, neste rio.
Triste ou altaneiro,
mas sempre de janeiro.

Em janeiro, nasci.
Fiquei velho, cresci.
Mas, sorrio, mentiroso.
E vivo, alegre, gostoso.

Amo, por que sorrio.
Sorrio, sempre sorrio.
Alma triste, existe,
mas sorrir consiste.

Escrever é conseqüência.
Calar é demência.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Posto Seis

A tarde nem era alegre.
A praia estava limpa.
O pombo, solitário.
Eu, solitário, nem era alegre.
A beleza de tudo em volta.
O idioma mal falado.
Os estrangeiros brancos,
de sol avermelhados.
Os celulares roubados.
Policiais desatentos,
sedentos.
A tarde nem era alegre.
A foto do pombo.
O pombo da foto.
O clique do celular.
O curtir dos amigos.
Eu, alegre, nem era solitário.
O pombo, solitário, voou.
Outros, muitos, no cenário.
Vou falar, logo, de vez.
Isto é o Posto Seis.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O autógrafo


Rio de Janeiro, 27 de abril de 2011.

 

Caríssimo Alyrio Cavallieri:

 

Quase dezenove horas, cansado de um dia extenuante de advogado, vivido do Fórum Regional da Barra para o da Comarca de Duque de Caxias, com passagem pelo Tribunal de Justiça, chego em casa.

 

O porteiro, com aquele sorriso de quem vai receber um agrado, me entrega um envelope pardo e, pela caligrafia do endereçamento que logo reconheci, não entendeu porque saí correndo para meus aposentos.

 

A dedicatória remeteu-me para o “Jovem de 88 anos” que já passa, graças a Deus, pelos noventa rumo ao próximo século.

 

Nada havia lido da Clara Arreguy, mas logo me identifiquei com seu estilo de escrever e deliciei-me com sua correta fala sobre o “meu tipo inesquecível”, amigo e exemplo divulgado para todas pessoas de bem com quem algum dia me relacionei.

 

Não parei naquela crônica e, não fosse o relógio do estômago despertar, ainda estaria lendo a deliciosa coletânea.

 

Antes, porém, não me contive em usar o melhor meio de comunicação jamais superado e escrever esta cartinha, embora esteja distante de você apenas alguns metros, facilmente alcançados com alguns passos ou uma pequena corrida de táxi, para registrar meu agradecimento pela remessa do livro e contar-lhe que você acabou de satisfazer um antigo desejo meu: ter um livro com seu autógrafo.

 

Claro que tenho seu livro Direito do Menor, edição de 1976 e muitas  vezes pensei em pedir-lhe a preciosa assinatura.

Estou, agora, realizado.

 

Atravessada a “Catraca inoperante”, vejo a mesma letra do século passado (fins dele, é claro, afinal eu e você somos jovens de 70 e 90 anos), agora para presentear-me com seu autógrafo aposto à dedicatória que esperei tanto tempo “Ao amigo dileto e conterrâneo, com um abraço.”

 

Obrigado, mesmo!

Um forte abraço,

 

 

 

 

P.S. – Ainda estou embalado pela emoção de ter participado de seu  aniversário, com direito a cantar o hino do “Glorioso” e constatar que o coro era bastante grande e animado.

Espero continuar recebendo as edições d’ “O Primo” e poder compartilhar, sempre, da admirável família Cavallieri.

Imagem de 2013, 72 anos


Itabirito, nesta semana santa

Venho de lá, onde passei em revista meu habitat até os vinte anos.
Vejo, em ampliação vinte por trinta, excelente fotografia colorida assinada pelo meu genro (o Cristiano da Túlia, data venia).
Vagueio pelo tempo, como a nuvem destacada do límpido azul celeste do meio-dia, naquelas montanhas.
Não me lembro de ter sido criança, embora me veja aos quatro, aos cinco, aos nove e outras mais recentes idades naquelas plagas, muito adoradas.
Tenho saudade de tudo e de todos.
Como o Ataúlfo cantou, era feliz e não sabia.
Os programas radiofônicos (O Luquinhas da Loja de Bicicletas dizia que não entendia como eu, tão pequeno, tinha uma voz de besouro na Rádio Cultura), as crônicas publicadas (a curiosidade de todos quanto a quem seria o autor, pseudônimo de Robert Ray, capaz de denunciar “meninas que fumavam”. Quanta inocência, o grave crime denunciado era da utilização de produtos de Souza Cruz pelas jovens. E agora?, o que fazem as minhas jovens conterrâneas?).
A missa das seis na Igreja de São Sebastião, o óleo por mim derrubado, na pressa de iniciar a irradiação da Santa Missa Dominical:
- Senhores ouvintes, boa noite, diretamente da Matriz de São Sebastião passamos a irradiar a santa missa que será oficiada pelo Reverendíssimo Padre Adelmo....
O óleo derramando sobre meu casado, tirado às pressas, sem sair do ar e o pároco: - Coitadinho do Romeu, está todo ensopado.
Passo pela casa da Dalva esposa do Mendanha e vejo que Itabirito é muito bonita, imutável nos meus pensamentos.
Lembro do Padre Antônio e do Padre Geraldo.
Lembro do Luiz, companheiro nos estudos de italiano, lá no Hospital São Vicente de Paulo.
E todas as mulheres que me fizeram romântico eterno, sobretudo aquelas que amei sem jamais conseguir me aproximar, nem mesmo tirar para dançar naqueles bailes domingueiros no União ou no Itabirense.
Lembro até de dona Maria Catuta, madrinha de minha mãe, tia do Telê Santana.
E Lucy, aquela menina que me ajudava a lavar o banco de madeira ao lado de minha casa, tão bonita, talvez meu primeiro amor.
Lembro da Fufu, da Maria Helena, da Dalva, da Vera...
Da Maisé que me ensinou um código (Zenit x Polar) pelo qual seu nome ficava Mitai.
É melhor parar de lembrar.
É Sábado Santo, naqueles tempos, Da Aleluia, com bailes e alegrias.
Romeu Oliveira Gurgel, Rio, Copacabana, 2.5.2003, ao ver a foto tirada em 19.04.2003.