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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

GURGEL NÃO COMBINA COM COVARDIA

Neste primeiro dia de 2014, acordei com a lembrança de uma canção cômica que meu finado amigo Raul Nélio gostava de cantar para companheiros daquela cervejinha gelada no bar da esquina: “Portugal não foi à guerra, / mas também não se acovardou-se (sic), / cobriu-se com um lençol / e escreveu, por cima, /Portugal mudou-se ...”
Os protestos do lusitano do bar, quase sempre, acabavam com uma confraternização de torcedores do Vasco da Gama, mas sempre deixando claro que a Pátria longínqua sempre foi valente, sem covardia.
Viajo no tempo e relembro o historiador Heitor do Amaral Gurgel, também de saudosa memória, ofertando-me seu autógrafo no livro que narra a origem dos “Gurgel” e conta a valentia do primeiro do nome, aqui no Brasil, o francês Toussaint que, após ter sido afundado o navio de guerra em que tentava conquistar nossas terras, nadou bravamente até o litoral e, após cuidados pelos escravos do Capitão Geral de Angra dos Reis, caiu nas suas graças e acabou, mesmo, conquistando sua filha, com quem se casou.
O livro, Uma família carioca do século XVI, é um estudo sobre nossa família, da qual o autor se orgulhava por pertencer.
Fato que não se pode negar é que todos os Gurgel são bravos, altivos, fortes e, até aqueles que, como o Duque de Caxias (Luís Osório de Lima e Silva) não ostentavam o nome, pois apenas sua mãe o tinha, perdendo-o com o casamento, ficaram marcados como heróis.
Certo é que Gurgel não combina com covardia e todos os detentores deste nome, de que me ufano, de alguma forma, lutam pela preservação dos direitos e da justiça.
Senti que tenho que registrar isto, para que meus filhos e netos sempre se orgulhem por pertencerem ao clã e que prossigam, sem covardia, a trajetória da vida.
Os mais velhos sabem que nem mesmo uma arma apontada para mim fez com que me afastasse dos meus conceitos e princípios, mas que o amor sempre incentivou minhas atitudes.  Claro que não me refiro ao amor paixão passageiro, mas ao amor e respeito pela vida, pela natureza e pelo ser humano, das crianças aos mais velhos.
Hoje em dia, nem mesmo precisamos sair de casa para vivermos situações de ameaça, de constrição, de medo, de covardia.
Mas, filhos e netos (será que conhecerei bisnetos?), não importa se com uma arma ou uma caneta na mão, ou melhor, com um celular conectado na rede social, sejam sempre autênticos e verdadeiros.
Enfrentem o mundo, ganhem os concursos, de escola ou de trabalho, sempre com galhardia, com a certeza de que Gurgel não significa covardia.

Copacabana, 1º de janeiro de 2014, Romeu O. Gurgel.

sábado, 28 de dezembro de 2013


NATAL DE 2013

Há tantos anos ele nasceu e sempre é lembrado, quer pelos que o amam, quer por aqueles que o odeiam.  Tantos se aproveitam de seu nome, de sua imagem, daqueles que o amam, para tirar proveito insano e lucros desmedidos.  Tantos se imiscuem entre os que o amam e roubam, falseiam, ludibriam, até em seu nome.
Há, porém, uma maioria feliz que ama e é amada.
Que respeita e é respeitada.
Há as diferenças.
Há as semelhanças.
Sobretudo, há as crianças!
Ah ... as crianças, seres pequenos que entram nesta vida de ilusões, com esperanças, com credibilidade.
Seres que, se não crescessem, mudariam o mundo pela autenticidade de viver sem sofrer, de viver sem tristezas, de viver só por viver.
Ainda me lembro das tentativas que meus olhinhos de cinco ou seis anos de idade faziam por não fechar.
Queriam esperar, acordados, o Papai Noel.
Minha boa mãe, cordata com meus desejos, movia minha cama do quarto para a sala e a colocava ao lado do presépio, cuidadosamente armado, com limo tirado das terras úmidas que beiravam o córrego, o rego d’água.
- Que hora Papai Noel chega?
- Como ele entra na nossa casa?
- Como ele sabe o que quero?
- Ele leu a carta que mamãe escreveu para ele?
As histórias e estórias que minha mãe contava, paciente, intercalada de canções cantadas com carinho e emoção, embalava meu coração de criança e faziam crescer o peso das pálpebras pequenas e eu acaba por dormir.
Como sono de criança é bom...
Sem ouvir o barulho do bom tio que trazia, escondido sob a capa de boiadeiro, o presente que o Papai Noel, com tanto trabalho nesta época, lhe incumbia de trazer.
Ao acordar a surpresa, a alegria, o presente.
São quase 73 de anos de vida e, neste dia, custo a dormir, esperando que Papai Noel chegue e eu possa vê-lo.
Não consigo esperar.
Não tenho mais as canções da minha mãe, mas o sabor do bom vinho, da farta ceia.
Mas continuo esperando e, sempre, ao acordar, sempre me surpreendo com o presente.
Além daquele maior (que é a vida), tantos outros, tantas felicidades, tantas alegrias, tantas surpresas.
Meus olhos, de pálpebras cansadas, pesadas, deveriam fechar-se mais vezes, em mais noites de Natal, para que maiores e sempre melhores presentes viessem!
Paz, saúde, solidariedade, lealdade!
Feliz Natal, ho, ho, ho ...


                               Romeu Oliveira Gurgel, Copacabana,24.12.2013.

sábado, 30 de novembro de 2013

MEU PRIMEIRO CHOPE COM MEU NETO



Acho que o título está bom, mas melhor seria o melhor almoço de fim de ano com meus primogênitos (filho e neto, ambos príncipes) e a deliciosa companhia da princesa Ivana.
Muito a falar, muito a comemorar.
Reaprendi o ato de amar e de amar muito, através das grandes notícias, sempre com a verbosidade do Alexandre.
Não vou consegui esquecer, em mil anos que viva, destes momentos de carinho e alegria em que é sobrelevado o valor da família, através dos dons pessoais de cada membro e do respeito mútuo e eterno que tudo envolve.
Ainda rola em minha cabeça cansada as expressões de tranquilidade do momento, ambientado pelo cenário de “La Maison” e o requinte do cardápio eclético e democraticamente escolhido, onde Singapura se misturou com a Bahia, “shrimp” em bobó, a picanha e alho e óleo.
Ri, ri muito, da definição de político do meu maior e adorei, amei a idéia da publicação de uma coletânea de sucessos das minhas aventuras de advogado.
Entendo, agora, porque se diz que a vida se projeta e se perpetua.
Certa ocasião, quando passava por uma das mais tristes fases de minha vida, ouvi de um grande amigo, a frase “o que mais admiro em você é que nunca desiste” (verdade que respeito).
“Coletânea de pedidos formulados por um advogado tenaz, providos pelos magistrados” poderia ser o título. “Coletânea de pedidos bem sucedidos” ou, em duas palavras, “Sentenças irrecorríveis” ... (risos).
Não importa se o livro seja escrito ou não, as petições estão nos meus arquivos e a idéia do meu filho, enlevada pelo elogio de sua “Dona” aos meus escritos, pela grandeza de meu neto, foi demais para o meu ego.
Cheguei saltitante e meu “home office” mais parecia, para mim, uma cadeira perpétua na Academia Brasileira de Letras.
Ou, quem sabe, na recém criada Academia Brasileira de Direito Civil, onde tem assento o insigne Sílvio Capanema de Souza.
É tanta honra que o trio maior que compunha o significado do encontro de “Gurgéis” de fim de ano fez deste quarto componente, obscuro e ultrapassado, sentir-se rei, capo, pai, avô ou seja, sentir-se “o cara”.

Tomei meu primeiro chope com meu primeiro neto, filho de meu primeiro filho.
É o que conta!
Romeu Oliveira Gurgel

Copacabana, 29.11.2013.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

SORRISO



Sorrir é preciso.
Preciso, porém, não é o sorriso.
É largo, verdadeiro,
é lisongeiro.

Mas se não sorrio,
Fico, aqui, neste rio.
Triste ou altaneiro,
mas sempre de janeiro.

Em janeiro, nasci.
Fiquei velho, cresci.
Mas, sorrio, mentiroso.
E vivo, alegre, gostoso.

Amo, por que sorrio.
Sorrio, sempre sorrio.
Alma triste, existe,
mas sorrir consiste.

Escrever é conseqüência.
Calar é demência.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Posto Seis

A tarde nem era alegre.
A praia estava limpa.
O pombo, solitário.
Eu, solitário, nem era alegre.
A beleza de tudo em volta.
O idioma mal falado.
Os estrangeiros brancos,
de sol avermelhados.
Os celulares roubados.
Policiais desatentos,
sedentos.
A tarde nem era alegre.
A foto do pombo.
O pombo da foto.
O clique do celular.
O curtir dos amigos.
Eu, alegre, nem era solitário.
O pombo, solitário, voou.
Outros, muitos, no cenário.
Vou falar, logo, de vez.
Isto é o Posto Seis.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O autógrafo


Rio de Janeiro, 27 de abril de 2011.

 

Caríssimo Alyrio Cavallieri:

 

Quase dezenove horas, cansado de um dia extenuante de advogado, vivido do Fórum Regional da Barra para o da Comarca de Duque de Caxias, com passagem pelo Tribunal de Justiça, chego em casa.

 

O porteiro, com aquele sorriso de quem vai receber um agrado, me entrega um envelope pardo e, pela caligrafia do endereçamento que logo reconheci, não entendeu porque saí correndo para meus aposentos.

 

A dedicatória remeteu-me para o “Jovem de 88 anos” que já passa, graças a Deus, pelos noventa rumo ao próximo século.

 

Nada havia lido da Clara Arreguy, mas logo me identifiquei com seu estilo de escrever e deliciei-me com sua correta fala sobre o “meu tipo inesquecível”, amigo e exemplo divulgado para todas pessoas de bem com quem algum dia me relacionei.

 

Não parei naquela crônica e, não fosse o relógio do estômago despertar, ainda estaria lendo a deliciosa coletânea.

 

Antes, porém, não me contive em usar o melhor meio de comunicação jamais superado e escrever esta cartinha, embora esteja distante de você apenas alguns metros, facilmente alcançados com alguns passos ou uma pequena corrida de táxi, para registrar meu agradecimento pela remessa do livro e contar-lhe que você acabou de satisfazer um antigo desejo meu: ter um livro com seu autógrafo.

 

Claro que tenho seu livro Direito do Menor, edição de 1976 e muitas  vezes pensei em pedir-lhe a preciosa assinatura.

Estou, agora, realizado.

 

Atravessada a “Catraca inoperante”, vejo a mesma letra do século passado (fins dele, é claro, afinal eu e você somos jovens de 70 e 90 anos), agora para presentear-me com seu autógrafo aposto à dedicatória que esperei tanto tempo “Ao amigo dileto e conterrâneo, com um abraço.”

 

Obrigado, mesmo!

Um forte abraço,

 

 

 

 

P.S. – Ainda estou embalado pela emoção de ter participado de seu  aniversário, com direito a cantar o hino do “Glorioso” e constatar que o coro era bastante grande e animado.

Espero continuar recebendo as edições d’ “O Primo” e poder compartilhar, sempre, da admirável família Cavallieri.